Escritora de vocação confessional, transpõe em muitas das suas personagens femininas a sua solidão profunda, o seu lento viver dilacerado, a sua amorosa atenção aos seres e às coisas de um quotidiano «insignificante». Nos seus contos e crónicas, de que avultam Esta Cidade!, Uma Mão Cheia de Nada Outra de Coisa Nenhuma, Voltar atrás para Quê?, O Pouco e o Muito, Queres Ouvir? Eu Conto, Título Qualquer Serve, perpassam figuras do dia-a-dia, ora dolorosas ora insones, operários, empregados, vendedeiras, mulheres-a-dias, as serviçais de então, os parentes pobres; e nas cenas de um amargo pitoresco em que esse pequeno mundo se agita vibra um sentimento de solidariedade social que encontra o seu melhor paralelo em certos poemas de José Gomes Ferreira.
Dispersiva e fragmentária, espalhando versos e artigos por diversos jornais e revistas, entre eles Presença, Sol Nascente e Seara Nova, Irene Lisboa marcou o seu tempo, nele deixando fortes sinais de independência, de coragem, de crítica aguda ao microcosmo pequeno-burguês.
João Gaspar Simões no «Suplemento» do Diário de Lisboa; José Régio, na Presença, e Vitorino Nemésio, na Revista de Portugal, foram os primeiros a proclamar criticamente a excepcionalidade literária de Irene Lisboa.
Paula Morão, na sua tese de doutoramento, Irene Lisboa. Vida e Escrita, valoriza em Irene Lisboa, como antídoto para a dilaceração interior, a tentativa de teorizar pela escrita o modo como se apreende o mundo. Deve-se à mesma estudiosa a organização, em 1991, das Obras de Irene Lisboa (ed. Presença), iniciadas com a reedição, em um só volume, dos seus poemas, o qual inclui estudo crítico de José Gomes Ferreira.
De indispensável consulta o Catálogo do centenário da escritora (exposição comemorativa na Biblioteca Nacional, 1992).
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. III, Lisboa, 1994






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