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Teófilo oferece-nos, então, uma síntese na qual toma em conta as críticas que lhe haviam sido dirigidas na História da Literatura Portuguesa (Recapitulação), em 4 vols., Porto, 1909-1918. Aqui se encontra definida com mais rigor a sua concepção da história literária nacional, constituindo a sua melhor obra sobre o assunto. A ela se deve juntar ainda a parte que, de parceria com Carolina Michaëlis de Vasconcelos, redigiu (Geschichte der portugiesischen Litteratur) para a Grundiss der romanischen Philologie, obra dirigida por Gustav Gröber (vol. 2, Estrasburgo, 1897, pp. 129-382). Faltava, porém, ao vasto panorama que traçara, o estudo do período contemporâneo. Teófilo procura preencher esse vazio, ao publicar as Modernas Ideias na Literatura Portuguesa (Porto, 1911). Completava, assim, um projecto em que consumira quase meio século de um labor ingente, deixando ao País o primeiro monumento da sua consciência literária.

Vistas à luz do nosso tempo e da investigação posterior, muitas das teses sustentadas por Teófilo são hoje inaceitáveis. A noção simplista da hegemonia cultural estrangeira em cada período da nossa história literária impediu-o de compreender a especificidade estética das obras nacionais, levando-o a generalizações abusivas. Certos juízos são demasiado redutores e levantam problemas que ficam sem resposta. Não se entende, por exemplo, como é que o latim exerceu uma acção nefasta na literatura portuguesa de 500, quando ele a não teve na Itália durante o mesmo período. E, se se compreende a sua censura aos Jesuítas pelo apoio que eles deram à ideia da monarquia dual na Península, a verdade é que nada nos diz da acção que desenvolveram a favor da Restauração. Encontram-se muitos hiatos na lógica do discurso crítico de Teófilo, que se redime, no entanto, pela cópia da informação e por comentários sagazes e ainda hoje reveladores. Esgotada durante muitos anos, a sua História da Literatura Portuguesa é reeditada a partir de 1980 por duas casas editoras de Lisboa.

Teófilo foi também um estudioso das instituições nacionais. A sua História da Universidade de Coimbra nas Suas Relações com a Instrução Pública Portuguesa (Lisboa, 4 tomos, 1892-1902) é um trabalho de mérito, onde examina o papel desempenhado por aquela Universidade na formação do nosso escol intelectual.

Historiador da cultura; poeta, autor de A Visão dos Tempos. Epopeia da Humanidade (1894-1895), inspirada pelo exemplo de Victor Hugo; divulgador do pensamento positivista [Traços Gerais da Filosofia Positiva Comprovados pelas Descobertas Científicas Modernas (1877)]; etnólogo; doutrinador político republicano, Teófilo é um espírito inquieto e ávido de saber, cuja obra está profundamente ligada à acção cívica e ao desejo de intervenção política.

Militante do Partido Republicano, logo após a proclamação da República, em 1910, Teófilo é escolhido para presidente do Governo Provisório. E em 1915 ocupa o cargo de chefe de Estado, por renúncia de Manuel de Arriaga. Mas o seu amor ao trabalho intelectual jamais o abandonou, até quando a cegueira o atormentava, tornando-lhe penosa a leitura e a escrita. Na antevéspera de morrer dita e assina, a 26-1-1924, a sua última carta, dirigida aos editores e expondo ainda planos de trabalho.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. II, Lisboa, 1990

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