2
O seu carrinho
Hoje em dia, a poesia de Andrade Caminha lê-se com menos interesse do que a dos seus contemporâneos melhor conhecidos. Sem o espírito de revolta de Sá de Miranda ou a mestria de Camões, a quem não poupou nas suas sátiras, faltavam-lhe também as convicções apaixonadas de António Ferreira e a harmonia de Diogo Bernardes. A sua poesia parece exprimir, com demasiada nitidez, as aspirações da corte que servia.

Filho de João Caminha, que foi camareiro da duquesa de Bragança, D. Isabel, ele próprio foi camareiro do duque de Guimarães, D. Duarte, até ao ano de 1576, data do falecimento deste. Nesse ano retirou-se para Vila Viçosa, onde ficou ao serviço dos duques de Bragança, dedicando muitas das suas poesias às personagens destacadas da corte ducal. Foi, provavelmente, a lealdade de cortesão de Andrade Caminha que provocou o incidente mais celebrado da sua vida: a denúncia, perante a Inquisição, de Damião de Góis, que acusou de não ter dado o devido relevo, na Crónica de D. Manuel, à «morte cristianíssima» do duque D. Duarte. Esteve também ao serviço real, recebendo benefícios tanto de D. João III e D. Sebastião como de Filipe II.

Como poeta, esteve muito ligado a António Ferreira, que considerava amigo e mestre. Juntos introduziram, na literatura portuguesa, os géneros novos da ode, do epigrama e do epitáfio, e Andrade Caminha seguiu também o modelo do autor dos Poemas Lusitanos na composição de elegias, éclogas, epístolas em verso e sonetos, além de outros géneros líricos menores. Faltando-lhe o espírito radical de Ferreira, não rejeitava nem as formas métricas medievais (redondilhas, etc.) nem o uso do castelhano. A sua poesia moralista, menos fervente do que a de Ferreira, muitas vezes degenera em adulação de patronos aristocráticos.

Compôs também um canzoniere no estilo de Petrarca, que consiste em sonetos misturados com poesias de outros géneros (epigramas, canções, sextinas, balatas). Estas poesias foram dirigidas a D. Francisca de Aragão, senhora nobre a quem Andrade Caminha sempre dedicou um amor dos mais respeitosos. Os seus próprios sentimentos não parecem ter entrado nesta colectânea de versos correctos mas frígidos.

in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. I, Lisboa, 1989

Avaliações

Ainda não existem avaliações.

Seja o primeiro a avaliar “POESIAS INÉDITAS P. de ANDRADE CAMINHA”

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *