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Como poeta, o seu talento daria, na opinião de David Mourão-Ferreira, para mais dois ou três «apontarem novas direcções e novos modos de ser moderno na poesia portuguesa». «Poeta extraviado» desde os tempos de Coimbra, isso significa, em termos de obra produzida, pelo menos duas coisas: independência relativamente a escolas e doutrinas (quer dizer, fuga à tradição da nossa poesia, ao pendor narrativo, confessionalista, dramático) e feixe de novas encruzilhadas a apontar outros caminhos: adesão ao símbolo e à imagem (imagismo), às buscas formais (experimentalismo dos anos 60), aos efeitos de surpresa (non sense e insólito) e de ironia (estética surrealista), retorno às raízes populares (ritmo de Romanceiro, quadras e léxico). Em tudo isto, nada de clássico, a não ser nas motivações que se adivinham por debaixo de uma temática centrada na «busca do sentido da existência» (infância, isolamento do eu, procura de Deus, o Destino), formas de existência diversamente abordadas em alguns dos seus livros (1938-1959), motivações ainda clássicas pelo sentido romântico de uma apetência para o diálogo que delas se desprende.

No panorama do romance português, Mau Tempo no Canal (1944) ocupa um lugar de relevo como romance-tragédia que retrata os conflitos de uma sociedade patriarcal do primeiro quartel do século, integrada na asfixiante realidade insulana. Para além do encontro da realidade física (os Açores) com a psicológica (encarnada em duas famílias rivais que, por razões económicas, se digladiam), o interesse deste romance está também no encontro da dimensão realista da escrita com a simbólica. Mas a sua obra de ficcionista não se fica por este romance, considerado um dos mais importantes da literatura portuguesa do século XX, pois outras obras, anteriores e posteriores, haviam afirmado Nemésio como prosador pelo menos tão excepcional como o foi poeta.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. IV, Lisboa, 1997

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